Homilia do Prelado em Torreciudad

Homilia de Mons. Fernando Ocáriz no santuário de Torreciudad. No dia 15 de agosto celebrou o seu jubileu sacerdotal.

Ouvimos na primeira leitura a profecia de Isaías, que anuncia a vinda do Redentor, de Jesus, dando-lhe um nome muito especial: Emanuel, que significa “Deus conosco”. Verdadeiramente Deus está conosco, o próprio Senhor – temo-lo aqui no Sacrário, na Eucaristia – e a Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, está conosco na nossa alma em graça. Na verdade, Jesus ama-nos tanto que quis que o seu próprio Nome seja o de estar conosco.

Na segunda leitura, de São Paulo, ouvimos que somos filhos de Deus. Ele não está apenas conosco: está conosco como um Pai, como um Pai que nos ama, como um Pai que nos quer identificados com o seu Filho unigênito, com Jesus Cristo, pelo poder do Espírito Santo. E isso deve dar-nos grande esperança e grande confiança nas nossas relações com o Senhor, na nossa oração.

E com confiança, também agradecimento. Que sejamos pessoas agradecidas ao Senhor. Também por motivos singulares, tais como o aniversário da ordenação sacerdotal, para mim e para muitos outros sacerdotes. Também para cada um de vocês haverá momentos especiais em que será mais espontâneo dar graças ao Senhor. Mas esta realidade de ação de graças a Deus tem de ser algo constante. Há muitos anos, na véspera do dia 1 de janeiro, São Josemaria deu-nos uma sugestão, uma espécie de propósito, disse-nos em latim: Ut in gratiarum semper actione maneamus, o que significa que devemos permanecer sempre em ação de graças. Devemos permanecer sempre em ação de graças, para saber reconhecer o bem que o Senhor nos dá, diretamente na nossa alma, e também o bem que Ele nos dá através de tantas pessoas na nossa família, no trabalho, nas nossas amizades. Saber reconhecer o bem para ser agradecidos. Permanecer sempre em ação de graças. Mas algumas vezes nem tudo é tão bom: há sofrimento, há doença, há contratempos, há desgraças. Bem, aí também podemos estar gratos a Deus, podemos agradecer porque, como São Josemaria também diz em “Caminho”, Nosso Senhor faz-nos então participar da sua doce cruz (Caminho, 658). É uma questão de fé saber como descobrir o amor de Deus, mesmo na dor. Isto só é possível com fé e olhando para a Cruz de Jesus Cristo, tentando identificar-nos com Ele. Esta fé ilumina esta verdade maravilhosa: Deus é verdadeiramente Amor; Deus ama-nos loucamente, com uma “loucura” que o levou até à Cruz para nos salvar.

São João, numa das suas epístolas, faz uma espécie de resumo da sua experiência, a experiência dos apóstolos, ao lidar com Jesus Cristo, e diz de forma solene: “nós”, referia-se aos apóstolos, “conhecemos e acreditamos no amor que Deus tem por nós”. Se, às vezes, falta-nos um pouco de fé para saber como descobrir o amor de Deus, peçamos a Jesus, como lhe disseram os apóstolos: “aumenta a nossa fé!”. Também precisamos de fé para ter a certeza de que, por cima, por baixo e no meio de todos os acontecimentos, está o nosso Pai Deus, que cuida de nós, mesmo que muitas vezes não o possamos compreender.

O Senhor quer que estejamos contentes, que sejamos felizes também aqui na terra, apesar das dificuldades que possamos encontrar. Ele disse aos apóstolos, naquele momento especial da Última Ceia, como se expressasse o seu grande desejo: “Que a minha alegria esteja em vós e que a vossa alegria seja completa” (Jo 15,9-11). Este é o desejo de Cristo para nós: que possamos ser felizes. Mas precisamos de fé. Peçamos ao Senhor: aumenta a nossa fé, hoje e agora, aumenta a nossa fé, para ter também a força de não nos centrarmos apenas em nós próprios, nas nossas dificuldades, para estarmos mais abertos aos outros.

No Evangelho, acabamos de ouvir essa cena, como tantas outras surpreendentes, em que Nossa Senhora é a primeira e única a reparar nas necessidades das pessoas. Nem mesmo os encarregados do casamento, da organização, estavam atentos a isso. Nossa Senhora nota que falta vinho. Vamos pedir-lhe que nos ajude a descobrir as necessidades dos outros, que nos ajude a esquecer-nos um pouco mais de nós mesmos, porque assim seremos mais felizes. Porque não há maneira mais segura de estar contentes do que entregarmo-nos aos outros, do que pensar nos outros.

São Josemaria também dizia: “Dar-se sinceramente aos outros é de tal eficácia, que Deus o premia com uma humildade cheia de alegria” (Forja, 591). Que Nossa Senhora nos ajude a ter uma fé mais firme de que somos filhos e filhas de Deus, amados por Deus, e que nos dê a certeza de que em todas as circunstâncias das nossas vidas somos acompanhados pelo imenso amor de Deus por nós. Assim seja.