Amoris Lætitia: um convite para investir tempo na família

Neste ano, a exortação apostólica Amoris Lætitia completou 5 anos. Pela ocasião, o Papa Francisco inaugurou o Ano “Família Amoris Lætitia” que começou em 19 de março, solenidade de São José, e terminará no dia 26 de junho de 2022, no 10º Encontro Mundial das Famílias, em Roma.

Pedro e Ketty Rezende, professores de Computação e de Matemática na Unicamp, casados há 41 anos, foram convidados pela Santa Sé a participarem do Sínodo da Família em 2015. Eles foram um dos 17 casais que contribuíram com sua experiência sobre a família, participando das discussões junto com o Papa, bispos e representantes tanto da Igreja quanto de outras religiões. “Vínhamos de todas as partes do mundo e foi uma experiência profunda da Igreja católica e da presença do Espírito Santo que a guia”, comenta Ketty.

Vários dos auditores com alguns bispos, durante o Sínodo

“O Sínodo é uma oportunidade para que o Papa ouça sua Igreja. Durante todo o Sínodo, ele falou apenas três vezes”, conta Pedro. “Ao longo das sessões, que duraram 22 dias, ele estava conosco sempre que havia reuniões plenárias, e foram muitas! Ao mesmo tempo, havia um clima muito intenso de trabalho. Cada reunião era bastante intensa e, quando voltávamos para nosso alojamento, era também um tempo de estudo e oração”, aponta Pedro.

Ketty relata que o Papa transmitia seu bom humor a cada participante e se preocupava em estar próximo a todos. “Ele ficava conosco no intervalo do café, tomando cappuccino, mas ele gostava mesmo era de suco de laranja. Esses encontros com ele eram momentos muito descontraídos. Estar perto do Papa é uma alegria”!

Cada participante do Sínodo, além de compor grupos menores para debater temas relacionados à família, teve três minutos para apresentar considerações nas sessões plenárias. Como casal, Pedro e Ketty dividiram o tempo para transmitir experiências positivas da família como grande evangelizadora no meio do mundo.

“Queríamos transmitir nossa experiência de conhecer tantas famílias alegres, empenhadas em passar a fé para os filhos, aspecto este que o Papa abordou de uma forma tão linda no último capítulo da Amoris Lætitia: sobre a espiritualidade conjugal e familiar que, bem vivida, tornará a família ao mesmo tempo uma igreja doméstica e um núcleo vivo para transformar o mundo”, diz Ketty.

Entre as histórias, eles contaram a de um pai que acompanhava seu filho de seis anos a fazer seu exame de consciência à noite, e escutou que ele disse: “Jesus, perdoa a Sarah porque ela me bateu”. E o pai lhe explicou: “Não, filho, você deve pedir perdão pelas coisas ruins que você fez”. E o menino adicionou: “Jesus, me perdoe porque fui eu que bati nela primeiro”.

A importância da Amoris Lætitia hoje

Em março de 2016, o Papa publicou a Exortação Apostólica Amoris Lætitia, que trata do amor na família e que além de levar em conta algumas das considerações dos Sínodos de 2014 e 2015, traz inúmeras citações do riquíssimo magistério da Igreja. O casal destaca que a mensagem continua atual para todas as famílias. Ela é um convite do Papa para os casais renovarem a beleza do matrimônio e do amor conjugal mediante um caminho de mudança e crescimento pessoal para enfrentarem as dificuldades do dia a dia com a decisão de se amar mais e se pertencerem para sempre.

Pedro e Ketty com seus sete filhos, nora e netos

“É um documento atemporal: as preocupações de hoje continuarão sendo atuais por muito tempo”, relata Pedro. “O Papa é muito consciente de que há coisas que parecem óbvias e não são. Então, é preciso ensinar de novo a ‘se ser família’, e o seu valor como uma célula da sociedade. Para uma sociedade estar sadia, é preciso que cada célula esteja sadia”.

Ketty afirma que, mais do que apontar problemas, o Papa se preocupa em promover soluções de forma positiva e redescobrir a beleza da vocação matrimonial e da família. “Por exemplo, ele pontua que o aborto é um ataque à vida: ele fala isso em uma frase ou duas, mas depois gasta parágrafos e parágrafos para falar da maternidade ‘como um tempo maravilhoso onde a mãe colabora com Deus para que se verifique o milagre de uma nova vida com essa peculiaridade criadora do organismo feminino’. E continua dizendo que ‘cada criança é um projeto eterno de Deus, em que mãe e pai participam sonhando seu filho e, quando é concebido, realiza-se o sonho eterno do Criador’. O Papa quer promover a verdade e, nessa Exortação, ele evangeliza pela beleza”.

Os dois apontam que, no Ano da Família de 2021, o Papa continua a convidar os cristãos a investir tempo na família. “Acredito que todos nós podemos pensar como usar a Amoris Lætitia nos dias atuais para viver com renovado empenho nesse ano da família, sabendo que mesmo nessas condições desafiadoras da pandemia, o Senhor ‘habita na família real e concreta com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários”, destaca Pedro.

“Na correria que vivíamos pré-pandemia, os pais não tinham tempo para os filhos, então o Papa tem toda uma proposta para esse tempo gasto com os filhos, acompanhando-os e guiando-os promovendo diálogos que os levem à reflexão e ao amadurecimento. É um convite que o Papa faz para que se crie no seio da família, um lugar onde se aprenda a relacionar-se com respeito, a escutar, a ajudar e a desenvolver a sensibilidade de partilhar e cuidar dos outros”, afirma Pedro. “O Papa já falou várias vezes que não podemos sair dessa pandemia da mesma forma que entramos, e a nossa esperança é que a família saia de forma renovada”, lembra Ketty.