Administração da Residência de la Moncloa

A Administração da Residência de La Moncloa foi o primeiro Centro feminino dedicado ao atendimento doméstico de uma residência de grandes dimensões. Teve início em setembro de 1943, e existe até hoje. Teve o papel de ser um Centro pioneiro neste tipo de trabalho, proporcionando assim o ambiente simples e familiar que caracteriza os Centros do Opus Dei.

  1. Precedentes
  2. Instalação e primeiros passos da Administração de La Moncloa
  3. Atendimento espiritual a cargo de São Josemaria
  4. Papel da administração doméstica no ambiente dos Centros

1. Precedentes

A Administração da Residência de La Moncloa foi o primeiro Centro feminino dedicado ao atendimento doméstico de uma residência de grandes dimensões. Teve início em setembro de 1943, e existe até hoje. Teve o papel de ser um Centro pioneiro neste tipo de trabalho, proporcionando assim o ambiente simples e familiar que caracteriza os Centros do Opus Dei.

São Josemaria considerou providencial o fato de que seu trabalho de apostolado em Madri se desenvolvesse na casa que compartilhava com sua mãe e irmãos. Isto fez com que o ambiente em que se iniciava esse trabalho fosse o próprio de uma família, ambiente esse que foi transmitido ao conjunto das iniciativas do Opus Dei. Ao começar a Residência DYA em 1934, os serviços de limpeza e cozinha ficaram a cargo de pessoas contratadas, sob a supervisão imediata do diretor da Residência; a experiência não foi boa. O começo da Guerra Civil em 1936 deixou suspenso o problema. São Josemaria continuou, no entanto, a pensar na questão; nos meses em que ficou refugiado no Consulado de Honduras (entre março e agosto de 1937), refletindo sobre o andamento do Opus Dei, chegou a uma clara conclusão: a presença feminina era imprescindível para que os Centros do Opus Dei, inclusive os masculinos, fossem realmente lares[1].

Depois da Guerra Civil, o fundador do Opus Dei recorreu a sua mãe e a sua irmã solicitando a colaboração delas. Elas a prestaram generosamente, encarregando-se não só de alguns trabalhos de administração doméstica, mas também contribuindo para ensinar as moças que começaram a frequentar a Obra a partir de 1941 a realizar aquelas tarefas. Assim é que foi possível que bem cedo, em 1943, já houvesse condições para organizar uma administração completa e independente, e um modo de trabalhar que tornasse impossível a interferência entre a administração e a residência, o que se foi consolidando com a experiência.

2. Instalação e primeiros passos da Administração de La Moncloa

    A ocasião de começar uma administração com todos os seus elementos apareceu, como ficou dito, em 1943, quando foi necessário mudar a sede da residência da rua Jenner, que sucedia a antiga Residência DYA. Com a rescisão do contrato de aluguel dos apartamentos da rua Jenner, foi necessário procurar um novo imóvel e São Josemaria pensou que era uma boa ocasião para encontrar um que pudesse acolher mais residentes e ter uma área independente para a administração. Os imóveis para a nova residência foram encontrados na avenida de La Moncloa, muito perto da Cidade Universitária. Tratava-se de duas casas nos números 3 e 4.

    No dia 4 de janeiro de 1943, São Josemaria mostrou os planos dos dois edifícios às moças da Obra que na época já moravam num Centro da rua Jorge Manrinque. Os edifícios estavam muito avariados por causa dos bombardeios de artilharia da guerra e o proprietário tinha se mostrado disposto a reconstruí-los seguindo as indicações que lhe fossem dadas. Por isso, o fundador pediu a elas que vissem bem que aspectos deveriam ser tidos em conta para a distribuição das áreas da administração.

    Narcisa González Guzmán (Nisa), Encarnación Ortega (Encarnita) e Amparo Rodríguez Casado foram morar na Administração de La Moncloa no dia 28 de setembro de 1943. Antes disso, São Josemaria, junto com sua irmã e essas três moças, foi visitar o túmulo de sua mãe no cemitério de La Almudena. Rezaram lá pela nova tarefa que iam enfrentar e à qual dona Dolores tinha-se dedicado com tanta generosidade[2].

    A nova residência tinha capacidade para cem pessoas e dispunha de uma área totalmente independente para as que iam ocupar-se do serviço doméstico. Quando a Residência abriu oficialmente em 1º de outubro de 1943, os operários ainda circulavam pela casa e as três que se ocupavam da direção do trabalho ficaram logo sobrecarregadas pelas dificuldades: sua própria inexperiência, a desordem e sujeira provenientes das obras, avarias frequentes pela má qualidade dos materiais do pós-guerra, a escassez de alimentos, a falta de preparação das empregadas, etc. Sabendo dessas dificuldades, São Josemaria ia vê-las diariamente para seguir seus trabalhos e levar soluções concretas. Assim, por exemplo, sugeriu-lhes que almoçassem antes do horário dos residentes e que esses se dividissem em dois turnos e que os turnos fossem servidos por pessoas diferentes de cada vez para evitar o cansaço. Carmem Escrivá também lhes dava assessoria, embora não pudesse ir com a frequência que desejava, pois supervisionava a Administração do Centro de Diego de León.

    Talvez a maior dificuldade fosse a falta de preparação das empregadas, agravada pela inexperiência de Nisa e Encarnita, que se esforçavam por dirigir acertada e ordenadamente os trabalhos. As empregadas contratadas no momento da inauguração da Residência foram indo embora e São Josemaria recorreu às Hermanas del Servicio Doméstico[3],congregação fundada em 1876 por santa Maria Vicenta López y Vicuña, para que lhe mandassem novas empregadas. A madre Carmen Barrasa, que apreciava o interesse do fundador do Opus Dei em dar qualificação profissional ao trabalho doméstico (cfr. SASTRE, 2010, p. 271), pediu a Salvadora del Hoyo (Dora) que fosse trabalhar na Residência. A chegada de Dora del Hoyo em janeiro de 1944 representou um marco importante no andamento da administração. Embora tenha ido com a intenção de deixar esse trabalho ao cabo de um mês, e apesar da falta das comodidades materiais às quais estava habituada em seus trabalhos anteriores, sentiu-se atraída pela amabilidade e cordialidade de Nisa e Encarnita, e pela abnegação e alegria com que enfrentavam as tarefas diárias. Contra todo prognóstico, decidiu ficar. Junto dela destacou-se logo Concepción de Andrés, que tinha sido contratada por hora na administração, mas que acabou por morar lá e trabalhar em tempo integral pouco depois da chegada de Dora del Hoyo. Ambas empreendiam as tarefas com iniciativa e sentido de responsabilidade, fazendo com que o ambiente entre as empregadas melhorasse notavelmente.

    Em 14 de abril de 1944 chegou Maria Arellano para ajudar na direção e organização das tarefas. Havia pedido admissão pouco antes, depois de um retiro em Jorge Manrique. Ela representava um bom reforço porque, contrariamente a Nisa G. Gusmán ou Encarnación Ortega, tinha experiência em dirigir uma casa. A Administração de La Moncloa converteu-se de fato em um Centro de referência por ocasião do início do trabalho de outras administrações que começaram a funcionar a partir de 1944, como a da Residência Abando, em Bilbao, ou a da casa de retiros La Pililla.

    Atualmente, a Administração do Colégio Maior Moncloa é um Centro de Estudo e Trabalho (CET), conhecido como La Loma, onde se oferece a universitárias alojamento e formação para os trabalhos da casa ou relacionados com a hotelaria, de forma que sejam compatíveis os dois tipos de estudos, os universitários e os que se relacionam com a administração do lar.

    Dora com a sua irmã Isabel, em Madri (1945).

    3. Atendimento espiritual a cargo de São Josemaria

      Desde o início da Administração de La Moncloa, São Josemaria seguiu muito de perto o desenvolvimento do trabalho, animando aquelas que desempenhavam essa tarefa a realizá-la com entusiasmo humano e sobrenatural, convertendo o esforço e a dedicação no trabalho em ocasião de santificá-lo e santificar-se. Um acontecimento que o ilustra foi protagonizado por Encarnita Ortega e Nisa G. Guzmán no dia em que o fundador foi vê-las, 23 de dezembro de 1943, para cumprimentá-las pelo Natal. Sobrecarregadas pelo trabalho e aflitas pela sensação de desastre transmitiram a ele o seu desânimo e impotência. São Josemaria não perdeu a paz ao ouvi-las e tentou, como de outras vezes, dar-lhes alento e novas forças. Inesperadamente, porém, rompeu a chorar quando as ouviu dizer que tantas ocupações faziam-nas descuidar a vida espiritual. Acalmou-se, escreveu num pedaço de papel as dificuldades objetivas que havia, traçou uma linha reta e expôs as soluções: “1) com muito amor de Deus 2) com toda confiança em Deus e no Padre 3) não pensar nos desastres, até amanhã durante o recolhimento”. Tanto Encarnación como Nisa não esqueceriam nunca a importância de manter o horizonte sobrenatural de seu trabalho[4].

      São Josemaria ocupou-se também pessoalmente da formação das empregadas. Toda semana ia vê-las e dava breves palestras que abriam para elas horizontes sobrenaturais, e ensinava-lhes a sentirem-se orgulhosas de seu trabalho como empregadas do lar. Encarnación Ortega, de acordo com o que lhe indicava Escrivá, dava-lhes também uma aula de catecismo da doutrina cristã por semana.

      Poderíamos afirmar que a importância dessa administração está, por um lado, em ter sido a pioneira e por outro, em ter propiciado o ambiente em que se forjaram as primeiras mulheres que viram nos trabalhos do lar a matéria e o lugar de sua entrega cristã, segundo o espírito do Opus Dei. Dora del Hoyo (14/03/1946) e Concepción de Andrés (17/03/1946), de fato, pediram a admissão na Obra como numerárias auxiliares, estando em Bilbao, na Residência de Abando. A terceira numerária auxiliar, Antonia de San Vicente, entrou para o Opus Dei na própria Administração de La Moncloa, onde havia começado a trabalhar de modo definitivo em fevereiro de 1945.

      4. Papel da administração doméstica no ambiente dos Centros

        O fato de que a Administração da Residência de La Moncloa tenha sido a primeira experiência nessa linha e que ela tivesse um modo de funcionamento que depois, com as devidas adaptações, seria aplicado aos Centros do Opus Dei, torna oportuno dedicar alguns parágrafos para descrever suas características gerais.

        Uma administração é um Centro feminino, anexo normalmente à residência que atende – masculina ou feminina – mas completamente independente e que se ocupa de criar um ambiente de família próprio dos Centros do Opus Dei mediante a realização das tarefas domésticas da casa. Estas tarefas são assumidas como trabalho profissional e com a generosidade própria das mães de família. São Josemaria dispôs que quando se atende um Centro masculino, haja uma estrita separação, de modo que as pessoas de um e de outro centro não se conheçam nem se relacionem entre si. No caso de que a residência seja feminina, observa-se igualmente uma adequada distinção de áreas e horários.

        O fundador da Obra referia-se a este trabalho como apostolado de apostolados porque, com esta atividade silenciosa e oculta, aquelas que o desempenham facilitam o apostolado dos membros do Opus Dei, ao mesmo tempo que dão a força sobrenatural sobre a qual se apoia todo o trabalho apostólico: “Minhas filhas, este seu trabalho, escondido, nos ofícios humildes, constitui um grande meio de santificação e formação. O trabalho nas Administrações é indispensável para o bom andamento de suas casas, porque com ele vocês aumentam a eficácia de todas as atividades dos membros da Obra”[5]. Parte essencial deste trabalho é a contribuir para o ambiente de família, característico do espírito do Opus Dei. O fundador da Obra fazia ver que o cuidado dos pormenores que a formação de um lar implica era além disso “um âmbito particularmente propício para o desenvolvimento da personalidade”[6].

        Numa época em que, em alguns ambientes, se duvidava do valor do trabalho do lar e se começava a acentuar a necessidade de que a mulher trabalhasse fora de casa para o seu desenvolvimento profissional e pessoal, São Josemaria insistia em que a dedicação ao lar era um verdadeiro trabalho com uma enorme transcendência em toda a sociedade. “Através dessa profissão – porque o é, verdadeira e nobre – influem positivamente, não só na família, mas também numa multidão de amigos e de conhecidos, em pessoas com as quais de um modo ou de outro se relacionam, realizando uma tarefa bem mais extensa, muitas vezes, do que a de outras profissões”[7]. Estimulou, por isso, que nas administrações dos Centros fosse dada uma autêntica preparação profissional que capacitasse as mulheres a criar seu próprio lar trabalhando nessas tarefas com perfeição humana e sobrenatural, como refletem as seguintes palavras na entrevista concedida à revista Telva: “Isto para não falar do que acontece quando põem essa experiência e essa ciência ao serviço de centenas de pessoas, em centros destinados à formação da mulher, como os que dirigem minhas filhas do Opus Dei, em todos os países do mundo. Nesta altura, convertem-se em professoras do lar, com mais eficácia educativa, diria eu, do que muitos catedráticos de universidade”[8].

        Com esse fim, efetivamente, algumas dessas administrações têm, anexas, Escolas de Hotelaria nas quais se dão aulas teóricas e práticas para o desempenho dos trabalhos relacionados ao lar e se contribui assim à promoção social da mulher em algumas regiões do mundo.

        Exemplos dessas iniciativas são Escola de Hotelaria e Turismo Altaviana (Valência, Espanha), a Escuela Nogalar (Monterrey, México), Lakefield (Hampstead, Grã-Bretanha) e outras muitas em diversos países de todo o mundo.

        Inmaculada ALVA


        [1] Cfr. Andrés Vásquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo II, p. 366.

        [2] Cfr. Andrés Vásquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo II, p. 526.

        [3] NT: As Religiosas de Maria Imaculada são uma Congregação religiosa da Igreja católica fundada por Santa Vicenta Maria López y Vicuña, em Madri, aos 11 de junho de 1876. Nasceu para responder às necessidades das jovens que imigravam do interior para a cidade, em busca de trabalho, e se encontravam sem lar, sem trabalho, sem meios para subsistir. Hoje continua acolhendo adolescentes e jovens, imigrantes ou não, em Residências, Centros Educativos de Formação Profissional, Centros Sociais, e outras plataformas apostólicas, acompanhando-lhes em seu processo pessoal de crescimento em todos os âmbitos para que encontrem seu próprio caminho e seu posto na sociedade.

        [4] Cfr. Andrés Vásquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo II, p. 528.

        [5] O trabalho da Administração, Roma, 1993, p. 25: AGP, Biblioteca, P19

        [6] Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 87.

        [7] Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 88.

        [8] Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 88.