O meu regresso a casa

Irena Kaplas (Polónia). "Eu não conhecia São Josemaria, nem sequer tinha ouvido falar dele, mas ele talvez já me conhecesse. Foi assim como se encontrou comigo em Varsóvia, na rua Filtrwa, no aniversário do seu falecimento, a 26 de Junho, às 11 da manhã".

Eu não conhecia São Josemaria, nem sequer tinha ouvido falar dele, mas ele talvez já me conhecesse. Foi assim como se encontrou comigo em Varsóvia, na rua Filtrwa, no aniversário do seu falecimento, a 26 de Junho, às 11 da manhã.

Irena Kaplas na sua casa

A essa hora abria o portão de entrada do jardim da casa onde, há 58 anos (11 de Agosto de 1944), nos exilaram a mim e à minha família em pleno conflito bélico.

Durante todos estes anos nunca tinha voltado à minha casa, era um mundo que pertencia ao passado. Era demasiado dolorosa a lembrança dos familiares queridos que haviam sido assassinados. Na minha nova e solitária vida do pós guerra, nunca, nem sequer uma vez, senti o impulso de passar por esse troço da rua. Até a essa data, apenas ia lá em oração.

Mas, sem nenhuma intenção, plano ou previsão, percorri do princípio ao fim a minha antiga rua e encontrei-me diante da “nossa” casa. Depois, como num sonho, e que o era totalmente, alguém me convidou a entrar em casa. Entrei no vestíbulo, na nossa sala de visitas, na sala de jantar, e – não importa se a disposição dos móveis fosse diferente – de repente encontrei-me numa linda capela. Para mim foi, de certo modo, um choque, e agora vejo claro que foi um milagre: São Josemaria tinha-me levado ali.

Varsóvia em guerra

De outra forma, nunca teria conhecido o Opus Dei! Não se pode descrever quanto fiquei impressionada: na nossa antiga casa havia agora uma capela. Precisamente no lugar onde era o lugar da mesa da sala de jantar, à volta da qual trabalhavam a minha mãe e a minha tia – que morreu tragicamente na câmara de gás de um campo de concentração –, havia agora um altar, onde vive Jesus no Sacrário. E de um quadro pregado numa parede, ao lado, sorria – com um sorriso bom e inteligente – São Josemaria! Nesse momento tomei consciência que estava num Centro do Opus Dei, onde vivem estudantes universitários.

Até ao dia 26 de Junho de 2002, não sabia rigorosamente nada sobre São Josemaria. Poucos meses depois desta descoberta, atrevo-me a dizer que já estou imersa nele, no seu espírito.

Um passo em frente

Penso que São Josemaria, não só me deu a graça de viver aquela emoção tão grande, mas ajudou-me também a dar um enorme passo em frente na minha vida interior. Sentia-me tão agradecida a ele, que tinha o desejo imperioso de conhecer a sua vida e o espírito do Opus Dei. Comecei a ler a sua biografia, a conhecer o seu pensamento e os seus escritos. O livro Amigos de Deus passou a ser para mim uma ajuda diária.

São Josemaria é-me muito próximo na sua forma de pensar, no seu viver diário e na sua simplicidade na intimidade com Deus. É realmente uma Obra de Deus!

Vista panorâmica de Varsóvia

Já vivi muitos anos e passei por muitos momentos difíceis, mas sempre senti a proteção de Deus. Sempre me ajudou a apoiar-me na fé. E depois aconteceu também o meu encontro com o Opus Dei.

É evidente que São Josemaria nesse dia me conduziu àquela que fora a minha casa no passado. Comecei desde então a receber formação cristã na Obra e no ano seguinte Deus deu-me a enorme graça da vocação. Cada dia sinto com mais força a necessidade de transmitir tudo aquilo que Deus me tem concedido, de contar a minha descoberta, a passagem de uma vida cinzenta para uma vida de intensa intimidade com Deus no dia-a-dia.

Desde então até hoje

Pouco a pouco, mas constantemente, até ao dia de hoje, fui conhecendo e aprofundando no espírito da Obra, no conteúdo da formação espiritual, no sentido das práticas de piedade – que passaram a ser para mim não uma obrigação mas uma necessidade interior –, e foi crescendo em mim o desejo de falar deste caminho divino aos outros, especialmente à gente nova.

Comecei a viver uma profunda alegria pela consciência da presença de Deus em mim ao longo do dia. Quando me perguntam sobre o que me atraiu no espírito da Obra, respondo sem vacilar: a alegria de viver com Deus em cada momento da vida diária, em cada coisa que fazemos, que é um simples viver face à santidade, sem nada de dramático nem artificial. E assim é como vivo e tento transmiti-lo às pessoas com quem me encontro.

No fundo da alma gostaria de cantar e gritar: Gentes, não vedes quanto Deus vos dá?

Agora, nos meus anos de velhice, sem família… dou muitas graças a Deus e a São Josemaria por me ter ajudado a fazer parte desta Família.