A primeira Mulher do Opus Dei: "Primeiro os fundamentos, depois virá o resto"

María Ignacia Escobar teve plena consciência de que estava a fazer a Obra de Deus dali, da sua cama de hospital: “É preciso alicerçá-la bem. Para isso procuremos que os fundamentos sejam de granito para que não nos aconteça o mesmo que àquele edifico de que fala o Evangelho, foi construído sobre areia. Primeiro as fundações depois, virá o resto.“

Mª Ignacia García Escobar teve plena consciência de estar “fazendo” a Obra de Deus na sua cama do hospital: É preciso alicerçá-la bem. Para isso procuremos que estas fundações sejam de granito, não nos aconteça como aquele edifício de que fala o Evangelho: foi construído na areia. Antes de tudo as fundações depois virá tudo o resto.

Este é o modo como Deus atua – escrevia cheio de agradecimento em 1961 –: uma primeiro, depois a outra, guiando os passos, usando causas segundas, meios humanos. Reparai o que nos dizem os Atos dos Apóstolos ao contar a conversão de Saulo. Depois de o Senhor o ter ferido com a sua graça, ele diz: Domine, quid me vis facere? Senhor, que queres que faça? E ouve a resposta divina: surge et ingredere in civitatem et ibi dicetur tibi quid te oporteat facere (Act. IX, 6); Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer. Vedes? Uma graça primeiro, uma tarefa em seguida, com a seleção divina de tempo, de modo e de circunstâncias. Assim foi o Senhor fazendo a sua Obra: primeiro uma Secção, depois outra e depois um novo dom – os sacerdotes. E em cada aspecto do nosso caminho, em cada frente que havia que conquistar nesta formosa guerra de paz, o Senhor tratou-me sempre assim: primeiro isto, depois aquilo. Por isso, repito-vos: agradecei comigo esta contínua providência amorosa que o nosso Pai Deus nos tem manifestado.

A partir do dia 14 de Fevereiro de 1930, Mons. Josemaria Escrivá iniciou a fundação da Secção Feminina do Opus Dei. O trabalho foi mais demorado porque, por delicadeza e prudência, não podia ter, com as mulheres que se sentiam atraídas pela mensagem da Obra, o mesmo relacionamento que tinha com os homens (e sempre assim seria: concretamente nunca viveu num Centro da Secção Feminina).

Por outro lado, naquela época, as raparigas – que mais facilmente se poderiam sentir atraídas por este novo espírito – tinham pouquíssima liberdade. Eram obrigadas a dar aos pais todo o tipo de explicações: aonde iam, com quem, fazer o quê, a que horas voltariam… E, naquela altura, a Obra juridicamente não existia: atravessava os delicados momentos do início da sua gestação.

9 de Abril de 1932

Todavia, atendeu sacerdotalmente, com zelo extraordinário, Maria Ignacia García Escobar, uma das primeiras associadas do Opus Dei, que morreu santamente no Hospital del Rey, a 13 de Setembro de 1933. Sofreu muito porque padecia de tuberculose intestinal e teve de ser operada várias vezes. É emocionante ler os cadernos de notas que Maria Ignacia escreveu, ao estilo da clássica literatura espiritual espanhola, nesse hospital de doentes incuráveis. Tinha pedido a admissão na Obra no dia 9 de Abril de 1932 – “uma nova época de amor”, anota no seu caderno uns dias depois – mas, antes dessa data já oferecia pela intenção de S. Josemaria a febre, as múltiplas indisposições, dores intensas que, por exemplo, a impediam de escrever durante semanas seguidas. María Ignacia Escobar teve plena consciência de que estava a fazer a Obra de Deus dali, da sua cama de hospital: “É preciso alicerçá-la bem. Para isso procuremos que os fundamentos sejam de granito para que não nos aconteça o mesmo que àquele edifico de que fala o Evangelho, foi construído sobre areia. Primeiro as fundações depois, virá o resto”.

O sofrimento dos doentes daquele hospital foi o fundamento inamovível do Opus Dei. Maria Ignacia rezava pela Obra desde que, nos últimos meses de 1931, o Pe. José María Somoano lho pedira:

– Maria: é preciso rezar muito por uma intenção que é para o bem de todos. Esta petição não é de dias: é um bem universal que necessita de orações e sacrifícios agora, hoje, amanhã e sempre.

O Pe. José María Somoano encorajava muitos doentes a oferecerem os seus sofrimentos por aquela intenção: por ela sofriam indisposições, ofereciam operações dolorosíssimas, ou comiam mesmo sem apetite. "De noite – escreve María –, quando as dores não me deixam dormir entretenho-me a lembrar a Nosso Senhor a sua intenção".