Voluntariado em Nova Friburgo

Participantes do Centro Cultural e Universitário de Botafogo e do Centro Universitário da Tijuca ajudam desabrigados em Nova Friburgo.

Um velho amigo meu, professor da USP, costuma perguntar aos alunos: “O que é ser um bom médico?” E ele mesmo responde: “Não é aquele que sabe muito, ou tem um currículo volumoso, ou que ganha muito dinheiro. O bom médico é aquele que consegue que o paciente saia da consulta melhor do que entrou!”, ou seja, aquele que faz a diferença na vida do semelhante. Algo perfeitamente aplicável ao realizar um trabalho voluntário.

Ao tomar conhecimento do desastre, das centenas de vítimas, do grande número de desabrigados e de que os problemas eram maiores do que estavam sendo divulgados pela imprensa, procurei informações para oferecer ajuda voluntária.

Segundo relato de um aluno, que é de Nova Friburgo, muitas localidades estavam sem socorro médico e existiam centenas de pessoas feridas e doentes. Comentou também que, por mais que o Governo tentasse organizar ajuda médica e tenha instalado hospitais de campanha, existiam muitos locais sem qualquer atendimento às vítimas. Era quase impossível atender as necessidades dos 52 abrigos espalhados pela cidade. Alguns deles em locais de difícil acesso, já que muitos desabrigados preferem ficar em locais próximos ao que restou da sua casa ou dos seus poucos bens.

Junto com outros médicos e residentes de várias faculdades e hospitais do Rio de Janeiro que frequentam o Centro Cultural e Universitário de Botafogo e o Centro Universitário da Tijuca, residências universitárias que promovem atividades de ajuda social, organizamos grupos multidisciplinares de saúde para o atendimento aos desabrigados.

A Coordenadoria da Defesa Civil de Nova Friburgo ao tomar conhecimento da iniciativa, ofereceu a possibilidade de atendermos, em alguns dos 52 abrigos da cidade, medicação básica necessária e transporte aos abrigos de difícil acesso.

Assim, a atividade voluntária teria uma missão mais organizada, específica e determinada.

Dia 22 de janeiro, realizei a primeira visita em campo, junto com o assistente Massayoshi. Subimos a serra, procuramos o Núcleo Descentralizado de Vigilância Sanitária e visitamos 6 abrigos da cidade. No caminho deparamos com trechos de estrada destruídos, margens dos rios erodidas, carros destruídos, casas com toda mobília invadidas por lama e muitos morros com suas encostas desmoronadas.

Ao atender os doentes e entrevistarmos os familiares, pudemos tomar contato com a situação ainda mais trágica dos próprios desabrigados: muitos perderam parentes próximos, tiveram sua casa e bens destruídos, eram obrigados a viver em locais improvisados e desconfortáveis, sem perspectiva de retorno ao trabalho ou expectativa de como reconstruir o desmoronamento da própria vida.

Estas visitas permitiram diminuir a demanda do sobrecarregado atendimento nos postos e hospitais, e intervir preventivamente para promover a saúde nos abrigos, pois as condições improvisadas de grandes aglomerações de pessoas (alguns com mais de 100 desabrigados) em precárias condições de higiene, qualquer doença pode facilmente se disseminar. Desta maneira, vários casos puderam ser diagnosticados.

No atendimento pudemos também detectar necessidades específicas dos abrigos: atender os doentes e deixar toda medicação necessária, obter uma consulta para uma doença que requeria atendimento especializado no Rio de Janeiro, providenciar medicação mais apropriada para uma enfermidade, deixar um suprimento básico de medicamentos com o líder do abrigo, alertar o Núcleo de Vigilância do que era mais necessário ser doado ou providenciado tais como roupas íntimas, material de limpeza etc.

Mesmo realizando um atendimento primário, de menor complexidade tecnológica, percebemos a importância do trabalho voluntário em realizar uma real promoção da saúde: atuar antecipadamente aos primeiros sintomas de doença, orientar quanto à higiene, alertar quanto aos fatores de riscos de doenças, cuidados a serem tomados nestas aglomerações, fornecer tratamento medicamentoso adequado, e dar um alento cristão e de melhora da auto-estima aos desabrigados. Somente por esta ação, já justificaria a presença dos voluntários em todos os abrigos.

Para os próximos dias 5 e 6 de fevereiro, junto com o Dr. Andrei - residente do Serviço de Reumatologia da UERJ, formaremos várias equipes multidisciplinares de voluntários para atender nos abrigos com maiores necessidades.

Ciente da iniciativa, a família de um dos que estão em contato com a residência universitária, se prontificou a ceder uma casa que dista 15 km da cidade, para hospedar todos os voluntários.

Pretendemos reorganizar estas equipes em outras áreas, além da saúde, enquanto houver necessidade de ajuda aos desabrigados.

Dr. Herbert