Um santo que soube amar o Papa

"Na minha diuturna convivência com Mons. Escrivá, aqui em Roma, lá pela década de 1950, aprendi dos seus lábios a fidelidade indiscutida ao magistério Pontifício: “Onde está Pedro, aí está Cristo”, afirmava com frequência".

Escrevo junto da Igreja Prelatícia do Opus Dei, Nossa Senhora da Paz, a poucos metros do altar onde repousa o corpo de Josemaría Escrivá. Há poucas horas, concelebrava a santa missa na cripta de São Pedro, no Vaticano, diante do sepulcro do apóstolo, o primeiro papa.

Vim rezar diante dos restos mortais do fundador do Opus Dei porque foi ao seu lado que entendi em profundidade a união que devemos ter com o papa, o sucessor de Pedro.

Na minha diuturna convivência com Escrivá, aqui em Roma, lá pela década de 1950, aprendi dos seus lábios a fidelidade indiscutida ao magistério pontifício: "Onde está Pedro, aí está Cristo", afirmava com frequência.

Lembro-me de que leu para nós, em 1957, como se a estivesse saboreando, a mensagem que mandou gravar em pedra no terraço desta mesma sede prelatícia do Opus Dei. É uma lápide num lugar de onde se vê o Vaticano, e diz assim: "Como brilhas, Roma! Como resplandeces daqui, em panorama esplêndido, com tantos monumentos maravilhosos de Antiguidade! Mas a tua jóia mais nobre e mais pura é o Vigário de Cristo, de quem és a única cidade que se gloria".

Olhando para a cúpula de São Pedro, é como se essa mensagem construísse uma ponte invisível não apenas entre o túmulo do primeiro papa e o sepulcro do fundador do Opus Dei, mas também entre o primeiro século da Igreja e o início deste terceiro milênio. É como se estabelecesse um arco de fidelidade que une o primeiro ao último papa. E, como mais um vínculo de unidade, aparece a incontestada lealdade do fundador do Opus Dei, que morreu oferecendo a sua vida pela Igreja e pelo papa.

Acompanhei ao lado de monsenhor Escrivá o desenrolar da eleição do Papa João XXIII. O fundador do Opus Dei pedia-nos orações pelo futuro Papa: "Seja quem for, dizia-nos, já o amamos desde agora; seja quem for, sempre será o Vigário de Cristo". Numa daquelas tardes, logo que soube da escolha do novo papa, ajoelhou-se no chão e rezou intensamente. A seguir, exclamou cheio de júbilo: "Já temos papa!" e determinou que no dia seguinte se celebrasse o acontecimento "como festa grande" em toda a casa.

Esse foi para mim como um ato emblemático que testemunhou a sua profunda união com o Romano Pontífice, como o foi, igualmente, aquele encontro do dia 17 de maio de 1992, na Praça de São Pedro, quando 300 mil pessoas tiveram a alegria de participar da sua beatificação; uma cerimônia de marcante simbolismo, presidida pelo Papa João Paulo II e tendo como pano de fundo a imagem de Nossa Senhora - Mater Ecclesiae - que embeleza a monumental praça. Confluíram no mesmo lugar os três grandes amores de Josemaría Escrivá: Cristo, Maria e o Papa.

Um pensamento seu parece sintetizar esse carinho que tinha pelo Sumo Pontífice: "O teu maior amor, a tua maior estima, a tua mais profunda veneração, a tua obediência mais rendida, o teu maior afeto hão de ser também para o Vice-Cristo na terra, para o papa. Nós, os católicos, temos de pensar que, depois de Deus e da nossa Mãe a Virgem Maria Santíssima, na hierarquia do amor e da autoridade, vem o Santo Padre".

Hoje é o dia da sua canonização, na Praça de São Pedro. Poderemos dizer que foi canonizado um santo que soube amar o papa com todo o coração, ao ponto de ter vivido e consumido a vida por ele.

D. Rafael Llano Cifuentes é bispo auxiliar do Rio de Janeiro.

D. Rafael Llano Cifuentes // Jornal do Brasil