"– Tu o que queres Senhor? Eu também o quero!"

O Chef de cozinha Hélio Loureiro, figura bem conhecida no panorama gastronómico português, na apresentação da nova edição do livro São Josemaria Escrivá, de Michele Dolz, fez uma breve síntese da biografia do fundador do Opus Dei, salientando que "os santos não são super homens nem pessoas fora do comum nem seres inatingíveis". Damos, de seguida, o seu texto.

Chef Hélio Loureiro

Quando recebi o livro para leitura estranhei o seu tamanho, julgava-o maior com um texto mais intenso e denso, como a vida de Josemaria Escrivá, depois de o ler, fiquei surpreso com o poder de síntese que o autor emprega e a forma delicada na escrita que cativa rapidamente o leitor, ele mesmo refere “…não é possível narrar em pouca páginas a vida de um santo e talvez nem sequer fosse possível faze-lo em vários volumes “ mas na verdade Michele Dolz consegue e tem este poder de resumo.

Mostra assim o essencial e como salienta “ os santos não são super homens nem pessoas fora do comum nem seres inatingíveis” e recorda-nos palavras de São Josemaria quando fala acerca de outros santos como Pedro, Francisco ou Agostinho.

Mas então onde está a diferença entre o homem comum e o homem santo?

Confesso-me admirador da obra e da vida de São Josemaria, já tinha lido algumas biografias e escritos que nos mostram a vida deste Santo, que num percurso atribulado entrecortado por uma guerra civil em que uma onda desumana e anticlerical parecia dominar Espanha, levando à morte de tantos sacerdotes às mãos de ideologias sem Deus, sedentas de sangue querendo impor pela força o que nunca conseguiram pelo voto em nenhum país cristão da Europa.

O retrato que no és dado neste livro mostra o lado mais humano de São Josemaria em alertando logo o autor que não nasceu como um predestinado desde o seio materno mas indicando o quanto foi importante a sua educação no amor de um família devota, profundamente católica mas sobretudo com uma humanidade muito próxima da vivencia dos primeiros cristãos.

Talvez por isso São Josemaria tenha tido sempre dado como exemplo a vida dos primórdios da igreja e da vivência dos primeiros cristãos e das suas práticas, talvez porque ao experimentá-la no seu seio familiar tivesse sentido os frutos que daí advêm.

Atento aos sinais de Deus!

Ressalta esta biografia a atenção que Josemaria deu aos pequenos sinais como as pegadas dos pobres carmelitas, marcadas na neve, aqueles pés descalços sulcaram também o coração deste santo que procura na sua vida uma forma de se dar a Deus.

A inquietação divina deste santo não era apenas um sentimento espiritual mas antes uma profunda convicção de um trabalho ao serviço dos homens para maior glória de Deus.

O caminho dos justos é tortuoso e duro mas a sua Gloria mais resplendente que a as estrelas, São Josemaria começa um trabalho escarpado e diz-nos:

“Comecei a pressentir o amor, a aperceber-me de que o coração me pedia alguma coisa de grande e que fosse o amor … não sabia o que Deus queria de mim, mas era, evidentemente um chamamento “

Abandona-se ao trabalho de Deus e para Deus, reza, reza muito, tem uma fé inabalável e uma certeza contagiante, sonhou ser arquitecto … Deus fê-lo construir uma obra mais visível e mais duradoira que todos os edifícios do mundo, com base no amor desenhou uma estrutura onde cabem o amor aos homens, a Deus, num trabalho contínuo e dedicado.

A Oração foi sempre uma constante na sua vida, uma oração muitas vezes levada ao estremo como nos é relatada tantas vezes neste livro, uma vontade de fazer sempre a vontade do Pai Celeste e uma cumplicidade com Maria visível sempre ao longo da sua vida e em tantas expressões e orações.

Depois de ordenado trabalha como os mais pobres e para os mais pobres, assistindo primeiramente às necessidades humanas dedicando-se aos estudos nos poucos tempos livres, viu que o seu trabalho junto dos mais pobres era importante mas não era esse o seu principal trabalho ou missão lembrava e tinha para si a frase de Jesus que repita sem conta “ vim trazer o fogo à terra; e quero senão que se acenda “

Uma vez mais o sinal de Deus!

Dia 2 de Outubro, dia dos santos anjos da guarda, viu, viu com olhar de uma aparição numa visão divina o que seria o Opus Dei, (página 21 )

Esta visão iria mudar a vida deste homem e faze-lo percorrer agora um caminho novo que o levará à santidade. Tinha vinte e seis anos!

Trabalho sempre para a perfeição e para a santidade pode-se ler na página 22

Inunda-se de amor a Deus e de forças para esta nova luta agrega na mesma obra homens e mulheres conforme vontade de Deus. Assusta-o as intervenções sobrenaturais mas dela tira todo o ensinamento e força para continuar o caminho.

Começa o seu trabalho de divulgação numa Espanha dividida e onde o ódio era maior que o amor, conversa com universitários que os leva nas suas caminhadas de auxilio aos mais pobres e neles lança a semente do Amor a Deus e à sua Obra.

Em três homens que num dia abençoou viu trezentos mil, três milhões … tinha uma visão do futuro e foi assim que abriu a academia Derecho e arquitectura a que também chamava Deus e audácia, sem dinheiro mas com vontade fez crescer nos que procuravam o Opus Dei um amor incondicional a Deus e ao seu serviço.

Mergulha Espanha numa guerra sangrenta e atroz, Josemaria como todos os sacerdotes estão em perigos. São tempos em que se apontam armas à Igreja, incendeiam-se templos e matam-se sacerdotes numa vingança sem precedentes. Escrivá, esconde-se, zela pela sua vida e pela dos seus mas sempre com uma confiança em Deus e no que lhe estava destinado, não tem medo! Celebra sempre a eucaristia e mesmo no meio da desgraça contínua a incutir nos jovens o gosto pelo estudo e mesmo naquela adversidade continua a sua missão doutrinal.

Resta-lhe a fuga para os Pirenéus para França, os riscos eram imensos mas os caminhos da Cruz são sempre dolorosos, São Josemaria sabia-o.

A 2 de Dezembro chega a França, estamos em 1937, a guerra civil iria durar mais dois anos. Mal pode parte para Burgos e lá recomeça o seu trabalho.

Em Março de 1939 regressa a Madrid, destruída pela guerra, a casa que havia fundada já não existia tinha que reiniciar tudo, lançou mãos à obra e em Setembro desse anos dá ao prelo a sua obra-prima “ Caminho” escreve Josemaria no início desta obra:

Lê devagar os conselhos, medita profundamente nestas considerações, são coisas que te digo ao ouvido, em confidência de amigo, de irmão, de pai, e estas confidências são ouvidas por Deus. Não te contarei nada de novo. Vou reavivar as tuas recordações para que se eleva algum pensamento que te fira. A assim as melhores na tua vida e entres por caminhos de oração e de amor, e acabes por ser alma de critério “ 999 meditações sendo que a ultima retrata para mim todo o ensinamento “ qual o segredo da perseverança? O Amor – enamora-te, e não O deixarás “

É pois Josemaria um santo que nos impele ao amor a Deus e aos homens, que nos mostra o caminho da santidade, na prática comum do trabalho e pelo trabalho, a redenção e o caminho para a santidade feita no quotidiano e ao seu serviço.

Neste livro temos relatos do próprio Santo que nos dá a conhecer muito de si desde o seu sono profundo de que diz cair “ quando dormia, dormia muito bem, nunca perdi o sono por causa de calúnias e enredos “

Ocultou-se, varias vezes, sempre com intenção que apenas Jesus brilhasse, funda por vontade de Deus a sociedade sacerdotal da santa Cruz dedicada aos padres e que tantos frutos haveriam de dar até aos dias de hoje, fruto da esmerada formação espiritual que é administrada nesta instituição.

Cristãos correntes que procuram a santificação no meio do mundo através do trabalho profissional normal, que se parecia no fundo com os primeiros cristãos … começa aqui a sua luta dentro da Igreja, não havia no direito canónico nada onde se pudesse encaixar esta nova Obra.

O Santo Padre Pio XII depois de escutar Josemaria terá confessado “ é um verdadeiro Santo, um homem enviado por Deus para o nosso tempo”

Diz-nos São Josemaria “ sabeis porque a obra se tem desenvolvido tanto? porque a trataram como se fosse um saco de trigo, deram-lhe pancadas, maltrataram-na, mas o grão espalhou-se aos quatro ventos, bem dispostos e agora tem tantas vocações e somos uma família numerosíssima…”

Diabético Josemaria passou por muitos e vários sofrimentos mas mais pesada era a sua cruz mais próximo estava da redenção até que um dia depois de pedir a absolvição sacramental ao seu colaborador mais próximo, D. Álvaro, uma cura milagrosa se operou e o curou da diabetes, uma vez mais a mão de Deus mostrou as suas valências.

Abre as portas aos não católicos e aos nãos cristãos, precursor que foi do ecumenismo que haveria tempos depois de achar muitos adeptos dentro da Igreja e de onde haveriam de nascer bons e muitos frutos.

Começa a divulgação da sua obra pelo novo mundo que adere com entusiasmo e que no livro é tratado de uma forma absolutamente brilhante pois danos a ver a dimensão e extensão e o entusiasmo com que foi feita.

Nos capítulos que se refere ao anos difíceis e ao Concilio Vaticano I I o autor danos a conhecer o receio de São Josemaria pela Igreja que tão bem conhecia e pelas duvidas que agora imperavam pelo mundo fora onde milhões de crentes estavam repletos de duvidas e de medos sem saber qual o caminho a seguir.

Escreve em todas a suas agendas “por intercessão de Santa Maria, sejamos forte na Fé “ os duros anos setenta abalam a Igreja e a sua tradição, mas o Opus Dei continua fiel ao seu fundador, à Igreja e sobretudo a Cristo e aos seus ensinamentos.

Dizia : pagina 50

Meus amigos, quis Deus chamar até si um padre que ardeu de Amor por Deus estávamos no ano de 1975 diziam os que estavam juntos de si

“ aqui está um sacerdote apaixonado por Deus “

Em 6 de Outubro de 2002 foi proclamado Santo aquele que na vida teve que lutar como poucos pela construção de um mundo onde o Amor ausenta-se das pessoas que sedentas de viver o quotidiano se esquecem de preparar a eternidade.

Toda a Obra de Josemaria é uma construção de um mundo melhor mas onde a eternidade é o fim e começo de tudo.

Toda a visão deste Santo visa a identificação com Cristo, alfa e ómega de tudo e para quem viveu e nos compele a viver.

Este livro é deliciosamente pequeno para ser tragado de uma só vez mas tão intenso para ser recordado pela vida toda.

É como aquelas refeições que tomamos com amigos que passado alguns anos recordamos em alguns pormenores mas sobretudo não esquecemos a experiencia vivida.

Creio que não foi em vão que um dia alguém se lembrou de mim para apresentar esta obra, não fui eu quem escolheu mas tu quem me procuraste, e eu aceitei, na minha pequenez e pouco conhecimento tentei, e espero tê-lo feito, leva-los a ler este livro, pelo que retrata, pelo testemunho que nos deixa.

No teatro como na vida não existem pequenos nem grandes papéis mas interpretações bem ou mal feitas, este pequeno livro é obra grande que nos leva à descoberta do que Deus espera de nós, saibamos como Josemaria estar atentos aos sinais.

Termino como começo sempre o meu dia de trabalho, abro indiscriminadamente o “Caminho” e leio o que Josemaria escreveu para mim neste dia:

“Que o fogo do teu amor não seja um fogo-fátuo – ilusão mentira de fogo, que nem ateia em labaredas o que toca, nem dá calor”

Obrigado ao autor deste livro que me levou de novo e mais uma vez a sentir o que pode ser o Amor a Deus através da vida do seu servo Josemaria Escrivá