«A imprensa italiana publicou ontem (dia 10/05) algumas entrevistas dadas por Ron Howard, diretor do filme Da Vinci Code (O Código Da Vinci). Em algumas frases que se lhe atribuem, Howard afirma que “negar o direito de ver o filme é um ato fascista”, e também que “dizer a alguém que não vá ver o filme é um ato de militância e a militância gera ódio e violência”. Nessas entrevistas se menciona várias vezes o Opus Dei. As frases parecem referir-se às recentes declarações de algumas autoridades da Igreja.
Atrevo-me a rogar a Ron Howard que mantenha a serenidade e se expresse com respeito.
Convém não perder de vista a realidade da situação: este filme é ofensivo para os cristãos, Howard representa o agressor e os católicos são vítima de uma ofensa. Não se pode tirar do agredido até mesmo seu último direito, o de expressar seu ponto de vista. Não são as declarações de alguns eclesiásticos ou a petição respeitosa do Opus Dei de incluir uma advertência no começo do filme de que se trata de uma ficção, as que geram violência: são antes os relatos odiosos, falsos e injustos, os que alimentam o ódio.
Em suas declarações, Howard repete também que se trata simplesmente de um filme, uma história inventada, e que não há que levá-la muito a sério. Mas não é possível negar a importância do cinema e da literatura. A ficção influi em nosso modo de ver o mundo, sobretudo nos jovens. É falta de seriedade não levá-la a sério. Certamente, a criatividade artística necessita de um clima de liberdade, mas a liberdade não pode ser separada da responsabilidade.
Imagine você um filme que conte que a Sony está por trás dos atentados das Torres Gêmeas, que promoveu porque queria desestabilizar os Estados Unidos. Ou ainda um romance que revele que a Sony pagou ao pistoleiro que disparou no Papa na Praça de São Pedro em 1981, porque queria opor-se à liderança moral do Santo Padre. São apenas estórias inventadas. Suponho que a Sony, uma empresa respeitável e séria, não estaria contente ao ver-se retratada deste modo nas telas e que não ficaria satisfeita com uma resposta do tipo: “não se preocupe, é só uma ficção, não se deve levá-la muito a sério, a liberdade de expressão é sagrada”.
De qualquer forma, aqueles que participaram no projeto do filme não têm motivos para preocupar-se. Os cristãos não reagirão com ódio nem violência, mas com respeito e caridade, sem insultos nem ameaças. Podem continuar tranquilos calculando o dinheiro que arrecadará o filme. Porque a liberdade do benefício econômico parece a única liberdade sagrada de verdade, a única isenta de toda responsabilidade. É provável que ganhem muito dinheiro, mas estão pagando um grande preço ao deteriorarem seu prestígio e sua reputação.
Espero que a polêmica desses meses não seja estéril, que sirva para refletir sobre o caráter relativo do benefício econômico quando estão em jogo valores mais altos; sobre a importância da ficção; sobre a responsabilidade que acompanha e protege sempre a liberdade”.
O plano de comunicação do Escritório neste caso pode ser encontrado na página web do Opus Dei. Lá se explica com detalhe a posição mantida nesses meses.»
Manuel Sánchez Hurtado, responsável pelas relações com a imprensa internacional. Escritório de Informações do Opus Dei em Roma.