“O trabalho é a vocação inicial do homem”

O trabalho é a vocação inicial do homem, é uma bênção de Deus, e enganam-se lamentavelmente os que o consideram um castigo. (Sulco, 482)

Desde o começo da sua criação, o homem teve que trabalhar. Não sou eu que o invento: basta abrir a Sagrada Bíblia nas primeiras páginas para ler que - antes de que o pecado e, como consequência dessa ofensa, a morte e as penalidades e misérias entrassem na humanidade (Cfr. Rom V, 12) - Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo tão belo, ut operaretur et custodiret illum (Gen II, 15), para que o trabalhasse e guardasse.

Devemos convencer-nos, portanto, de que o trabalho é uma maravilhosa realidade que se nos impõe como uma lei inexorável, e de que todos, de uma maneira ou de outra, lhe estão submetidos, ainda que alguns pretendam fugir-lhe. Aprendei-o bem: esta obrigação não surgiu como uma sequela do pecado original nem se reduz a um achado dos tempos modernos. Trata-se de um meio necessário que Deus nos confia aqui na terra, dilatando os nossos dias e fazendo-nos participar do seu poder criador, para que ganhemos o nosso sustento e simultaneamente colhamos frutos para a vida eterna (Jo IV, 36): o homem nasce para trabalhar, como as aves para voar (Job V, 7).

Talvez me digam que passaram muitos séculos e que muito poucos pensam desse modo; que a maioria, no melhor dos casos, se afadiga por motivos muito diversos: uns pelo dinheiro, outros para manter a família; outros para conseguir uma certa posição social, para desenvolver as suas capacidades, para satisfazer as suas paixões desordenadas, para contribuir para o progresso social. E, em geral, encaram as suas ocupações como uma necessidade de que não podem evadir-se.

Em contraposição com essa visão achatada, egoísta, rasteira, tu e eu temos que recordar-nos e de recordar aos outros que somos filhos de Deus, a quem o Pai, como àqueles personagens da parábola evangélica, dirigiu idêntico convite: Filho, vai trabalhar para a minha vinha (Mt XXI, 28). Asseguro que, se nos empenharmos diariamente em considerar assim as nossas obrigações pessoais, como uma instância divina, aprenderemos a terminar as nossas tarefas com a maior perfeição humana e sobrenatural de que formos capazes. (Amigos de Deus, n.57)