O Opus Dei: “O Código Da Vinci?! Fortalece-nos”

Entrevista do Prelado do Opus Dei, Mons. Javier Echevarría, por ocasião da estréia do filme “O Código Da Vinci”, concedida a Vittorio Messori e publicada no dia 11 de maio no Corriere dela Sera, de Milão.

O homem que está na minha frente é bispo e, como tal, tem direito ao título de “Excelência", não ao de "Eminência", que está reservado aos cardeais, mas que, por sinal, é o único termo que Dan Brown sempre utiliza. Uma amostra pequena, mas significativa, de quão profundamente desconhece uma Igreja sobre a qual jura estar rigorosamente informado. De resto, o americano é um daqueles para os quais os numerários do Opus Dei, que sentem o legítimo orgulho de serem leigos, seriam "monges" e usariam um hábito preto com capuz; e não, como acontece na realidade, roupas normais que em nada se diferenciam das de qualquer outro. Seja como for, o sacerdote com o qual converso no seu escritório usa uma simples batina preta e quer que o chamem apenas de "padre".

D. Javier Echevarría, madrileno de ascendência basca, 74 anos, secretário do Fundador, Josemaria Escrivá, durante 30 anos, seu segundo sucessor como Prelado da "Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei", sorri: "Esse fantasioso senhor acabou lucrando à nossa custa – e não só em dólares – (aliás, como tantos outros que nos agridem), porque, seguindo o ensinamento do nosso Padre, nós rezamos com o mesmo fervor pelos que nos louvam e pelos que nos caluniam". Naturalmente, digo-lhe, o senhor conhece bem o livro. "Em absoluto. Só o folheei. Não tenho tempo a perder com romancezinhos para desocupados.Contudo, não o rejeito principalmente pelo que diz de nós – são as coisas costumeiras que nos fazem sorrir –; o que me dói mesmo são os delírios grotescos sobre Nosso Senhor e sobre a nossa Santa Mãe a Igreja. Que digam o que quiserem da Obra, mas que não profiram blasfêmias contra a fé".

O que me dói mesmo são os delírios grotescos sobre Nosso Senhor e sobre a nossa Santa Mãe a Igreja

O bispo sabe bem que, instigado por Leonardo Mondadori, que reencontrou a fé por meio de pessoas do Opus Dei, dediquei um ano inteiro a me documentar sobre a Obra e publicar um livro-pequisa. Conheço, por isso, a lenda negra que os acompanha desde o início; mas peço-lhe também o que já pedi ao seu predecessor, Álvaro del Portillo, em cujo processo de beatificação tenho prestado meu testemunho. No fim das contas, por que toda essa sanha contra o Opus Dei? A resposta é simples e clara: "Porque são conhecidos a nossa adesão ao Papa, a nossa fidelidade à Igreja e o rigor da nossa ortodoxia na fé. Atacam-nos para atacar essas realidades: para eles, nós não passaríamos do filhote hipócrita de uma Igreja Católica que só pode dar frutos venenosos. E, depois, porque quando já não se acredita mais no demônio, no verdadeiro, procuram-se outros imaginários. A perda da fé conduz sempre à superstição".

Como todo americano, Brown gira sempre e somente à volta dos "States", e parece acreditar que até a sede central da Prelazia não seja nesta casa do bairro romano do Parioli mas em um arranha-céus de Manhattan que o obsessiona, e que vê como prova da riqueza e do poder da Obra. A réplica vem do porta-voz, que está presente na entrevista: "A nossa vocação é chamar cada um a se santificar através do trabalho. Não poderíamos deixar de estar presentes naquela capital profissional do mundo que é Nova Iorque. Tínhamos lá uma sede na periferia, de difícil acesso e, a pedido de colaboradores e amigos, decidimos concentrar na City não só os escritórios para todos os Estados Unidos, mas construir também um prédio para retiros espirituais, que são um dos esteios do nosso apostolado. É o único lugar de retiro e silêncio no coração de Manhattan, uma espécie de mosteiro metropolitano! Mas, com seus dezessete andares, o edifício não é só nanico em comparação com os verdadeiros arranha-céus que o circundam, mas está construído sobre um terreno minúsculo, um antigo posto de gasolina. Quanto à área dos locais, são os equivalentes a um pequeno condomínio de quatro andares".

17 de maio será o aniversário da triunfal beatificação de Josemaria Escrivá; nesse dia “O Código da Vinci" abrirá o Festival de Cannes. À tarde, a Prelazia acolherá todos os que o desejarem no Centro Elis, no bairro Tiburtino.

Brown pontualiza o custo: 47 milhões de dólares. A resposta do porta-voz é pronta: "Aqui, em Roma, está sendo construído, por iniciativa de membros da Obra, uma policlínica moderníssima, o "Campus Biomédico", aberto a qualquer um que precisar. Já está bem adiantado e, quando terminar, o custo será de 250 milhões de euros. Ainda em Roma, já faz quarenta anos que construímos e mantemos um grande centro profissional, o Centro Elis, do qual já saíram formados mais de dez mil jovens especializados. Rapazes da periferia que se tornam técnicos estimados, com um bom nível de vida. Em todo o mundo, pessoas do Opus Dei promovem e sustentam as mais diversas obras sociais; são centenas de milhões de dólares que não vêm da Obra – que apenas cuida da formação espiritual nessas iniciativas – mas da generosidade dos 85 mil homens e mulheres que fazem parte do Opus Dei e vivem o espírito do fundador". Nesse ponto, intervém o Prelado: "Lembro-me de uma ocasião em que São Josemaria Escrivá foi visitar o Papa Roncalli (João XXIII), que tinha um grande carinho por nós. Paternalmente, o Pontífice o cutucou: "Monsenhor, é verdade que vocês possuem bancos?" E Mons. Josemaria: "Santidade, infelizmente são boatos falsos! Seria bom que os tivéssemos, pois poderíamos fazer um bem muito maior do que aquele que procuramos realizar". Uma resposta em que se encerra um dos traços da visão do Opus Dei: os bens materiais vistos, não como culpa ou pecado que deve ser expiado, mas como responsabilidade social, como instrumento para aliviar a miséria no mundo".

O dia 17 de maio será o aniversário da triunfal beatificação de Josemaria Escrivá; e justamente nesse dia “O Código da Vinci" abrirá o Festival de Cannes. À tarde, como única contrapartida, a Prelazia acolherá todos os que o desejarem no Centro Elis, no bairro Tiburtino, para mostrar o que a Obra é e faz na realidade. A Obra não deu nem dará nenhuma indicação aos seus membros para que boicotem o filme ou os produtos da Sony. Dizem-me: "Se alguém resolver fazê-lo, será uma decisão pessoal e livre. Nós só vamos recomendar que se multipliquem os esforços para esclarecer a verdade sobre os Evangelhos e sobre a Igreja".

(...) Citando uma expressão americana – "transformar o limão em limonada" – , a Prelazia não só tem evitado toda e qualquer polêmica, mas tem tirado da difamação uma boa ocasião. As visitas ao website da Internet (www.opusdei.org) já chegaram, no mundo, a três milhões por mês, e são inúmeros os serviços oferecidos a jornais e TV. A estratégia da transparência ("Mostrar o Opus Dei como é, não polemizar sobre o que não é") está dando resultados surpreendentes, ampliando o círculo dos amigos e adeptos.

Uma última e inédita notícia: no famoso mini-arranha-céus de Nova Iorque, o responsável americano da Obra e o da Doubleday Editions anunciarão uma reedição de "Caminho", com amplíssima tiragem. É o livro que contém 999 máximas de São Josemaria Escrivá; segundo Dan Brown, o manual de formação dos discípulos e a fonte do Mal. Mas a surpresa é precisamente esta: Doubleday é a editora de “O Código Da Vinci". No mesmo catálogo estarão, portanto, o "veneno" e o "antídoto", e cada qual poderá julgar. Como me repetia D. Javier ao despedir-nos: "Para nós, que acreditamos na Providência, não há mal aparente que não se revele como um bem real".

Vittorio Messori para o Corriere della Sera