Jesus morre na Cruz

“Os mistérios da dor levam o crente a reviver a morte de Jesus pondo-se aos pés da cruz junto de Maria, para com Ela penetrar no abismo do amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora.” (João Paulo II, "Rosarium Virginis Mariæ", 22). Apresentamos alguns textos de São Josemaría sobre o quinto mistério doloroso.

EVANGELHO DE SÃO JOÃO (Jo 19, 17-30)

Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota.. Ali o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: «Jesus de Nazaré, rei dos judeus». Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:

—Não escrevas: «Rei dos judeus», mas sim: «Este homem disse ser o rei dos judeus».

Respondeu Pilatos:

—O que escrevi, escrevi.

Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros:

—Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será.

Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica (Sl 21,19). Isso fizeram os soldados.

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe:

—Mulher, eis aí teu filho.

Depois disse ao discípulo:

—Eis aí tua mãe.

E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura, disse:

—Tenho sede.

Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca. Havendo Jesus tomado do vinagre, disse:

—Tudo está consumado.

Inclinou a cabeça e rendeu o espírito.


TEXTOS DE SÃO JOSEMARÍA

Jesus Nazareno, Rei dos judeus, já tem preparado o trono triunfador. Tu e eu não O vemos contorcer-se, ao ser pregado; sofrendo tudo quanto se pode sofrer, estende os braços com gesto de Sacerdote Eterno.Os soldados tomam as santas vestes e fazem quatro partes. – Para não dividirem a túnica, sorteiam-na para ver a quem tocará. – E assim, uma vez mais, se cumpre a Escritura que diz: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre elas lançaram sortes (Jo 19, 23 e 24).

Já está no alto... – E, junto de seu Filho, ao pé da Cruz, Santa Maria... e Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. E João, o discípulo que Ele amava. Ecce mater tua! – Aí tens a tua Mãe! Dá-nos a sua Mãe por Mãe nossa.

Tinham-Lhe oferecido antes vinho misturado com fel, mas, tendo-o provado, não o bebeu (Mt 27, 34).Agora tem sede... de amor, de almas. Consummatum est. – Tudo está consumado (Jo 19, 30).Menino bobo, olha: tudo isto..., tudo, sofreu por ti... e por mim. – Não choras?

Santo Rosário, 5º mistério doloroso

Agora crucificam o Senhor, e junto dEle dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. Entretanto, Jesus diz:

—Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34).

Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E já na Cruz, todos os seus gestos e todas as suas palavras são de amor, de amor sereno e forte.

Em atitude de Sacerdote Eterno, sem pai nem mãe, sem genealogia (cfr. Heb 7, 3), abre os braços à humanidade inteira.

Juntamente com as marteladas que pregam Jesus, ressoam as palavras proféticas da Escritura Santa: Trespassaram as minhas mãos e os meus pés. Posso contar todos os meus ossos, e eles me olham e me contemplam (Sl 21, 17-18).

— Ó meu povo! Que te fiz eu, em que te contristei? Responde-me! (Miq 6,3).

E nós, despedaçada de dor a alma, dizemos sinceramente a Jesus: Sou teu, e entrego-me a Ti, e prego-me na Cruz de bom grado, sendo nas encruzilhadas do mundo uma alma que se entregou a Ti, à tua glória, à Redenção, à corredenção da humanidade inteira.

Via Sacra, 11ª estação

Temos que lutar sem esmorecimento por fazer o bem, precisamente por sabermos como é difícil que nós, os homens, nos decidamos seriamente a praticar a justiça - e ainda falta muito para que a convivência terrena se inspire no amor, e não no ódio ou na indiferença. Não ignoramos também que, embora se consiga atingir uma razoável distribuição dos bens e uma harmoniosa organização da sociedade, jamais desaparecerá a dor da doença, da incompreensão ou da solidão, da morte das pessoas que amamos, da experiência das nossas limitações.

Diante desses pesares, o cristão só tem uma resposta autêntica, uma resposta que é definitiva; Cristo na Cruz, Deus que sofre e que morre, Deus que nos entrega o seu coração, aberto por uma lança por amor a todos. Nosso Senhor abomina as injustiças e condena quem as comete. Mas respeita a liberdade de cada indivíduo e por isso permite que elas existam. Deus nosso Senhor não causa a dor das criaturas, mas tolera-a porque — depois do pecado original — ela faz parte da condição humana. Contudo, seu Coração cheio de Amor pelos homens levou-o a carregar, juntamente com a Cruz, todos esses tormentos: o nosso sofrimento, a nossa tristeza, a nossa angústia, a nossa fome e sede de justiça.

A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de consolos fáceis. É, em primeiro lugar, uma doutrina de aceitação do sofrimento, que é de fato inseparável de toda a vida humana. Não posso ocultar — com alegria, porque sempre preguei e procurei viver que onde está a Cruz está Cristo, o Amor — que a dor tem aparecido frequentemente em minha vida; e mais uma vez tive vontade de chorar. Em outras ocasiões, senti que crescia o meu desgosto perante a injustiça e o mal. E provei o dissabor de ver que não podia fazer nada, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar certas situações iníquas.

Quando falo de dor, não falo apenas de teorias. Nem me limito a registrar experiências alheias quando confirmo que, se alguma vez sentimos vacilar a alma perante a realidade do sofrimento, o remédio é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições devem ser santificadas, se vivemos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por Amor aos homens, toda a gama de dor, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda hoje Cristo continua a sofrer nos seus membros, na humanidade inteira que povoa a terra, e da qual Ele é a Cabeça, o Primogênito e o Redentor.

A dor tem um lugar nos planos de Deus. Esta é a realidade, ainda que nos custe entendê-la. O próprio Jesus Cristo, como homem, teve dificuldade em suportá-la: Pai, se é possível, afasta de mim este cálice; não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua. Nesta tensão entre o suplício e a aceitação da vontade do Pai, Jesus vai para a morte serenamente, perdoando aos que o crucificaram.

Mas precisamente essa aceitação sobrenatural da dor representa, ao mesmo tempo, a maior conquista. Morrendo na Cruz, Jesus venceu a morte: da morte, Deus tira a vida. A atitude de um filho de Deus não é a de quem se resigna à sua trágica desventura; é antes a satisfação de quem saboreia antecipadamente a vitória. Em nome desse amor vitorioso de Cristo, os cristãos devem lançar-se por todos os caminhos da terra, para serem semeadores de paz e de alegria, com a sua palavra e com as suas obras. Temos de lutar — é uma luta de paz — contra o mal, contra a injustiça, contra o pecado, para proclamar assim que a atual condição humana não é a definitiva, que o amor de Deus, manifestado no Coração de Cristo, alcançará o glorioso triunfo espiritual dos homens.

É Cristo que passa, 168