Entrevista do Prelado: da Missa à vida

A revista italiana “Famiglia Cristiana”, que publica mensalmente 700.000 exemplares, entrevistou o Prelado do Opus Dei. A Missa, a fé e os jovens são alguns dos temas enfrentados por D.Javier Echevarría.

O Prelado, na audiência que recentemente lhe concedeu Bento XVI.

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Na sede central da Prelazia do Opus Dei, que compreende a igreja de Santa Maria da Paz, aonde repousa o fundador São Josemaria Escrivá, entrevistamos o seu sucessor, o bispo D. Javier Echevarría, por ocasião da publicação de seu livro “Vivir la Santa Misa”.

D. Echevarría, colocar a Missa no centro da jornada é um bonito desafio. Por que vale à pena dar prioridade à Missa e qual é o segredo para vivê-la bem?

O Prelado, na audiência que recentemente lhe concedeu Bento XVI.

A Missa é ação de Deus, que nos permite participar da paixão, morte e ressurreição de Cristo, não como expectadores ou observadores, mas como protagonistas. Por isso, no título do livro, quis usar a expressão “viver” a Santa Missa, que expressa bem a implicação total, humana e espiritual, que a Missa exige.

Em seu livro, fala do perigo do ritualismo. Como podemos evitá-lo?

Ritualismo significa esquecer o conteúdo daquilo que ocorre sobre o altar. Que faríamos se nos dissessem: “hoje tens a oportunidade de estar no Calvário junto a Jesus”? Ou: “hoje encontrarás Cristo ressuscitado”? Nestes casos, como nos prepararíamos? E, por outro lado, como nos preparamos para a Missa?

O senhor viveu mais de 20 anos junto a São Josemaria. Que aspecto de sua personalidade mais o surpreendia?

São Josemaria sabia querer às pessoas de um modo extraordinário. Bastava a ele um olhar para compreender as necessidades de cada um. Tinha essa intuição que só as mães possuem. Ao mesmo tempo, era um verdadeiro pai: não nos ensinava nada sem antes nos mostrar com seu exemplo. Resultava evidente que era um sacerdote que buscava ao Senhor a todo momento.

Como celebrava a Missa?

Era consciente de que, na Eucaristia, o protagonista é Cristo, não o sacerdote. Isso o levava a celebrar o rito fielmente, sem buscar originalidades, de forma que só Jesus brilhasse, não ele. Dizia que, para ele, a Missa era “um trabalho” que lhe exigia grande esforço, um esforço extenuante em algumas ocasiões, dada a intensidade com que a vivia. Em cada pequeno gesto, sabia transmitir todo o sentido sobrenatural da celebração.

A Missa continua na vida?

A Missa não termina com a celebração. Acompanha-nos todo o dia. O alimento material nos nutre porque o transformamos em parte de nós mesmos, mas a Eucaristia – alimento espiritual – nos transforma em Jesus. Dessa forma, nossa jornada, unida ao Sacrifício do altar, se transforma em uma Missa contínua, que converte tudo o que fazemos – o trabalho, o descanso, as relações familiares e sociais – em uma obra agradável a Deus.

“Famiglia Cristiana” é a revista que publicou a entrevista com D. Javier Echevarría.

Em que consiste o Opus Dei?

O Opus Dei tem uma tarefa na Igreja de recordar que os batizados estamos chamados à santidade através da vida cotidiana. São Josemaria dizia que há algo divino escondido nas situações mais comuns, e que toca a cada um de nós descobri-lo. Nenhuma ação humana pode resultar num obstáculo para a amizade com Deus. Mais: é precisamente nas circunstâncias cotidianas onde Deus nos chama para que O encontremos.

A Prelazia do Opus Dei no mundo pode ser equiparada a uma grande diocese global que depende diretamente do Papa?

Essa afirmação poderia causar algum mal-entendido, dando pé a se pensar, por exemplo, que a prelazia pessoal é uma Igreja particular separada da Igreja local. Pelo contrário, a Prelazia está ao serviço da comunhão entre as Igrejas locais, e o trabalho que realizam os fiéis do Opus Dei, leigos e sacerdotes, supõem sempre uma colaboração ativa com cada diocese. Os fiéis leigos do Opus Dei dependem também do bispo local, tal como os demais católicos.

Depois do fundador, São Josemaria Escrivá, e de seu primeiro sucessor, o bispo D. Álvaro del Portillo, cujo processo de beatificação está em marcha, há quinze anos o senhor dirige a Obra. Como vive a herança de dois santos?

Quando se vive com pessoas santas, compreende-se qual é o segredo para ter paz no coração: manter um diálogo constante com o Senhor. Assim, por muito evidente que sejam nossas carências, nossos defeitos, Ele estará sempre ao nosso lado, disposto a saná-los. Este “fator Deus” é o que distingue a vida do cristão, tornando-o imune a tantas preocupações e angústias que afligem o homem contemporâneo.

Poderia contar algum episódio inédito da vida de São Josemaria?

Frequentemente, ajudava a São Josemaria na celebração da Missa. Impressionou-me a primeira vez em que me pediu que rezasse para que ele nunca se acostumasse a celebrar uma ação tão sublime. É algo que me repetiu com frequência.

Em que direção, atualmente, avança a presença do Opus Dei?

O Santo Padre celebra a Missa no Vaticano.

Graças a Deus, há fiéis e cooperadores do Opus Dei nos mais variados lugares do mundo: desde os arranha-céus de Wall Street às favelas do Brasil. Em todas as partes se percebe uma grande sede de Deus. Também em diversas cidades da China há fiéis da Prelazia. No ano passado, iniciou-se o trabalho apostólico estável da Obra na Indonésia, e há outros países de população majoritariamente mulçumana onde também o Opus Deis está presente graças aos fiéis que têm que viajar para lá por motivos profissionais. Não faltam desafios no Oriente Médio, na Terra Santa e no Líbano, assim como na África: penso agora na Costa do Marfim, e também no Congo e na Nigéria. Em todas as partes, os problemas se superam graças a uma fé vivida de modo concreto, pensando no bem comum, com uma atitude de fundo construtiva que permite superar as diferenças.

Como vê a difusão da fé no mundo atual?

Atualmente, testemunhos fazem falta. Ante o relativismo que parece impor-se no Ocidente, assim como frente às divisões, guerras e pobreza que assolam diversas áreas do mundo, fazem falta pessoas dispostas a arregaçar as mangas e mostrar a realidade do Evangelho, não com discursos ou teorias, mas na vida de todos os dias.

Como é a relação do Opus Dei com o mundo dos jovens?

Quando São Josemaria começou a Obra, tinha ao seu lado somente um grupo de jovens universitários e trabalhadores. As atividades de formação com os jovens são uma de nossas prioridades. Existem na Itália e em todo o mundo numerosas residências universitárias e centros culturais nos quais moços e moças encontram oportunidades para crescer humana e espiritualmente: aprendendo a estudar e ser bons amigos, enriquecendo sua personalidade, formando um espírito crítico e construtivo, e comportando-se como filhos de Deus. Este trabalho educativo se realiza sempre com a colaboração das famílias. E mais: são principalmente os pais que pertencem ao Opus Dei quem promovem escolas, clubes juvenis e outras iniciativas que possam ser úteis a seus próprios filhos. Assim se dá, por exemplo, em diversas cidades italianas.