D. Álvaro comenta o 2 de Outubro

Por ocasião do 85º aniversário da fundação do Opus Dei, publicamos textos em que D. Álvaro del Portillo, primeiro sucessor de São Josemaria e futuro beato, explica a mensagem da procura da santidade na vida quotidiana.

capa do livro

Extratos tirados do livro "Orar. Como sal y como luz".

Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito

( Mt 5, 48). Pode ser admirável que este convite, depois de tantos anos, continue a soar ainda a coisa nova; mas o espanto desaparece se pensarmos que Deus trabalha continuamente na santificação das almas; que para Ele os séculos são como um dia e que oferece a cada homem os meios adequados, conhecidos e desconhecidos, durante toda a vida.

É preciso antes dizer, gritar sobre os telhados (cfr. Mt 10, 27), que o poder de Deus não diminuiu — non est abbreviáta manus Dómini ( Is 59, 1) — e até que esse poder é mais atual do que nunca. São muitos, com efeito, os que recebem e põem em prática essa chamada divina; pessoas a quem a graça do Senhor outorga o poder de se comportarem como filhos de Deus, de viver e morrer no seu amor.

(Homilia no 60º aniversário da fundação do Opus Dei).

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Monsenhor Escrivá de Balaguer meditou muitas vezes sobre uma passagem do Evangelho em que Jesus, dirigindo-se aos seus discípulos, lhes disse: Já não vos chamarei servos... A vós chamo-vos amigos ( Jo 15, 15). Deus, que nos ama, procura amor, por isso conta com a nossa liberdade: ama-a, porque sem liberdade não pode haver amor. Essas ideias foram, como digo, um dos temas centrais da oração do Fundador da Obra.

São Josemaria, D. Álvaro e D. Javier Echevarría, em 1974.

Comovia-se ao pensar na maravilha de um Deus todo-poderoso que ama os homens até ao extremo de esquecer as nossas rebeldias e as nossas infidelidades, de perdoar os nossos pecados, de mendigar de nós uma resposta de amor. E via com clareza o valor da liberdade, a necessidade de contribuir para que os homens apreciem a fundo esse dom divino de serem livres».

(Entrevista concedida a “La Vanguardia” por ocasião do 50º aniversário da fundação do Opus Dei. Barcelona, 1-10-1978).

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A primeira condição para santificar e para se santificar no trabalho é realizá-lo bem, com perfeição humana (…). Apresenta-se a ocasião de nos examinarmos a fundo e com valentia: realizo o meu trabalho com consciência, espremendo as horas para que rendam mais, sem nada conceder à preguiça? Tenho desejo de melhorar todos os dias a minha preparação profissional? Cuido dos detalhes para terminar bem as minhas tarefas diárias? Abraço a Cruz com amor — as contrariedades, as dificuldades, o cansaço do trabalho — com que tropeço nas minhas ocupações quotidianas? Se te comportas assim, meu filho, asseguro-te que já começaste a santificar o trabalho e a santificar-te por meio do trabalho.

(Carta pastoral, 1-X-1984).

São Josemaria põe uns burritos nas mãos de D. Álvaro, numa foto de 1948.

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Temos de nos esforçar ainda mais para descobrir e para estimar muito o grande valor sobrenatural do corrente, do humilde, do simples. Com a Sagrada Família entra em pleno a grande epopeia da Redenção, na vida corrente de trabalho, de oração, de serviço.

Todos os afazeres quotidianos, e até aquilo que parece pequeno, ou mesmo insignificante, Deus assume-o, para lhe atribuir um lugar proeminente no plano divino da Salvação e da santificação. A clareza desta estrela, Maria, revela-nos com tons novos o valor colossal do pequeno, do oculto oferecido com fé e com amor.

Agora, tende-o muito em conta em cada instante, toca-nos a nós realizar com plenitude de fé os afazeres diários. Necessitamos de uma grande visão sobrenatural; necessitamos de aprender de Maria a responder com um sim decidido e firme à cooperação que Deus nos pede.

(Carta pastoral, 2-2-1979, n. 8.)