Confiar na misericórdia de Maria

Após o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul, ocorreu uma pesca milagrosa por sua intercessão. Mas, por qual motivo Maria interveio para que o milagre ocorresse?

Foto de Robson J. Siqueira

No banquete, em honra ao Governador de São Paulo e Minas de Ouro, seriam apresentados, como prato principal, os peixes frescos da própria localidade. Foram convocados moradores da região para a pesca, mas as horas se passavam e eles nada apanhavam. Seria uma vergonha não poder oferecer os frutos do rio na refeição. Para que aquelas pessoas simples não passassem por tal constrangimento, Maria, movida por sua misericórdia maternal, interveio.

Maria é a nossa Mãe de Misericórdia. Ela “fiel à missão divina para que foi criada, excedeu-se e excede-se continuamente no serviço aos homens, que foram chamados todos eles a ser irmãos de seu Filho Jesus. E assim a Mãe de Deus é também agora, realmente, a Mãe dos homens”[1].

“Maria quer sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe.

Mas é uma mãe que não se faz rogar, que até se antecipa às nossas súplicas, porque conhece as nossas necessidades e vem prontamente em nosso auxílio, demonstrando com obras que se lembra constantemente de seus filhos”[2].

O evangelista São João nos relata outro banquete em que Maria atuou com misericórdia: o das bodas de Caná[3]. Jesus também estava presente nas comemorações e Maria, ao perceber que o vinho das bodas iria acabar antes da festa, causando um grande desgosto aos recém-casados e suas famílias, intercedeu junto a seu filho, alcançando o primeiro milagre de Cristo: o da transformação da água em vinho.

Os dois milagres, de Caná e de Aparecida, ocorreram no âmbito de uma ceia, de um banquete, e por uma necessidade que não era, por assim dizer, vital. Não foram milagres chamativos como a cura de um cego, de um surdo-mudo, de um coxo, de um leproso ou a ressurreição de um morto. Os milagres não foram motivados por uma grave necessidade, mas somente para poupar pessoas queridas de um aborrecimento.

Não por acaso, o Evangelho escolhido para a festa de Nossa Senhora Aparecida foi justamente o das Bodas de Caná.

Em Caná, “entre tantos convidados de uma dessas ruidosas bodas do meio rural, a que comparecem pessoas de vários povoados, Maria percebe que falta vinho. Só Ela o percebe, e sem demora. Como se nos revelam familiares as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com as coisas normais e comuns. É próprio de uma mulher e de uma solícita dona de casa notar um descuido, prestar atenção a esses pequenos detalhes que tornam agradável a existência humana: e foi assim que Maria se comportou”[4].

Mostra-se, mais uma vez, a imensa misericórdia de Nossa Senhora para conosco, seus filhos, ao atender até mesmo as nossas mínimas necessidades.

O poder da intercessão de Maria se observa quando, em Caná, faz Jesus adiantar a sua hora de realizar milagres. Antes de atender às súplicas de sua Santíssima Mãe, Jesus havia dito: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou!”. Maria, com total confiança, insiste indiretamente ao dizer aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”. Jesus, então, não deixa de atender a sua insinuação, visto que sua Santíssima Mãe nada negou a Deus durante toda a sua vida. Cristo, após pedir aos serventes que enchessem várias talhas de água, transformou toda aquela água em vinho. Nesse milagre, manifestou-se a Onipotência Suplicante de Maria: ela tudo alcança, pedindo a seu Filho.

Graças ao milagre realizado em Caná, os apóstolos também acreditaram em Jesus. O mesmo acontece em Aparecida: devido à poderosa intercessão de Maria, iniciada na pesca milagrosa e prolongada em tantos favores, graças e milagres[5], alcançados diante da sua pequenina imagem, o povo brasileiro aumenta sua fé em Jesus. No Santuário Nacional, muitas pessoas voltam a ouvir no seu coração, as palavras de Maria em Caná: “Fazei o que Ele, meu Filho, vos disser”!

Podem-se aplicar perfeitamente, ao Santuário de Aparecida, as palavras dirigidas por Maria ao índio Juan Diego, em Guadalupe, no México:

“Sabe e compreende bem, tu, o mais pequeno dos meus filhos, que eu sou a sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus, razão do nosso viver; do Criador dos homens, do que está próximo e perto, o Dono do céu, o Senhor do mundo. Desejo vivamente que me ergam aqui um templo, para nele mostrar e dar todo o meu amor, compaixão, auxílio e amparo; porque na verdade eu sou a vossa Mãe bondosa, tua e de todos vós que viveis unidos nesta terra e dos outros povos, que me amem, que me invoquem, me procurem e confiem em mim; aí escutarei o seu pranto, as suas tristezas, para remediar e curar todas as suas penas, misérias e dores”[6].

Recorramos confiadamente à misericórdia de Nossa Senhora Aparecida. Assim, alcançaremos verdadeiros milagres, favores e graças de Deus, principalmente de cumprir a sua amabilíssima vontade em nossas vidas.

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[1] São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 140.

[2] Ibidem.

[3] Jo 2, 1-12.

[4] São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 141.

[5] Milhões de devotos de Nossa Senhora Aparecida vêm ao Santuário para pedir e agradecer as graças recebidas. Uma das formas de manifestar a gratidão é trazer ex-votos (palavra derivada da expressão latina “ex-voto suscepto”, que significa “por um voto alcançado” ou “por uma graça alcançada”). No Santuário Nacional de Aparecida, foi reservada uma sala, denominada “das promessas” ou “dos milagres”, para guardar todos ex-votos: objetos, fotos, cartas, testemunhos de fé dos devotos, que são formas de homenagear e demonstrar a devoção à Nossa Senhora Aparecida. Hoje, a sala das promessas recebe aproximadamente 19 mil ex-votos por mês, sendo que no mês de outubro, esse número chega a 30 mil.

[6] Cfr. Nican Mopohua, A Virgem de Guadalupe, Ed. Loyola, primeira aparição, p. 14-15.

Flávio Sampaio