A decisão de levar a cabo esta iniciativa nasceu de umas palavras de São Josemaria, que meditei muitas vezes:
Temos de pedir ao Senhor que nos conceda um coração bom, capaz de se compadecer com o sofrimento das pessoas, capaz de compreender que, para remediar os tormentos que acompanham e muitas vezes angustiam as almas neste mundo, o verdadeiro bálsamo é o amor, a caridade: todos os outros lenitivos servem apenas para distrair durante uns momentos, e deixar amargura e desespero depois.
Um grupo de universitárias de Estocolmo e de Malmö estava disposto a ir, durante as suas férias, ao encontro de pessoas que precisavam de companhia, carinho e alegria.
Na manhã de 19 de Julho, esperavam-nos em Zagreb as jovens croatas que também iam participar no voluntariado, e em Udbina iriam juntar-se a nós as que vinham de Inglaterra. Éramos um grupo de trinta e duas que iria ocupar nesses dias as salas de aulas de um colégio como dormitórios e sacos-cama para dormir, incluindo a organização de turnos para a utilização dos poucos duches existentes, e um horário que envolvia a preparação das nossas refeições: pequeno-almoço, almoço e jantar, e a limpeza do colégio que foi, nesses dias, a nossa casa.
De manhã trabalhamos com pessoas de idade que, de um modo geral, viviam sozinhas e muito pobremente no campo, com poucos ou nenhuns recursos materiais. Membros da Cruz Vermelha acompanhavam-nos e orientavam-nos no trabalho que realizamos: limpar as casas, pintá-las, lavar a louça, preparar as refeições e acompanhar os idosos. Uma dificuldade que conseguimos ultrapassar com a ajuda das nossas companheiras croatas foi a questão da língua: elas traduziam-nos tudo.
As pessoas de idade precisavam de falar, de nos contar as suas vidas, o seu sofrimento. Uma de nós comentou a certa altura: “Como é possível sofrer tanto e continuar a viver e, mais ainda, a sorrir, sem rancor?” A guerra deixou uma marca profunda de dor, que se sentia nesta terra. Por isso, demo-nos conta de que, para além do trabalho material de limpeza ou pintura que fazíamos, o que as pessoas esperavam de nós era atenção, que fizéssemos caso delas, que as escutássemos.
De manhã, alternavamo-nos para ir a um lar de idosos e, de tarde, acima de tudo brincávamos com as crianças. Preparamos, entre todas, o necessário para o “grande show final”, que apresentaríamos aos idosos do lar, ao pessoal que aí trabalha e a todos os habitantes da aldeia que quisessem assistir.
Ao cair daquela tarde de Julho em que apresentamos o show, tínhamos todas um mesmo sentir. Estávamos cansadas devido ao trabalho realizado, mas com o coração cheio de gratidão. Entre nós próprias tinha nascido um sentimento de admiração de umas pelas outras. Ao trabalhar lado a lado com as jovens croatas, impressionou-nos a sua retidão e a sua generosidade. O comentário espontâneo das outras participantes foi: “São de se lhe tirar o chapéu, aprendi muito ao vê-las a trabalhar e servir, sendo as primeiras nos trabalhos mais difíceis e menos agradáveis”. Nós tínhamos viajado porque queríamos ajudar, conseguir mudar a vida de alguém; porém, a ajuda e a mudança produziram-se em nós, ao estar em contacto com as necessidades dos outros.
Uma atividade que teve um êxito inesperado foi o concurso de desenhos sobre t-shirts e leques.
Foi também um modo fácil de envolver mais gente da Suécia no projeto, já que nos arranjaram as t-shirts e outros donativos.
Já passaram alguns dias desde que regressamos, e reunimo-nos para ver fotos e vídeos, recordar o que vivemos, rir do susto que apanhamos quando um membro da Cruz Vermelha nos disse que, no sítio por onde caminhávamos, havia serpentes e que tínhamos de ter cuidado, etc. A Priscilla comentava a doçura dos idosos, a vontade de viver que transmitiam. Todas refletimos sobre as comodidades que temos e como, por vezes, pensamos que precisamos de mais e não é assim. A Catherine disse: “Quando cheguei a casa, percebi que tinha estado todo aquele tempo sem Internet e sem usar o telemóvel, e não aconteceu nada”,
Ao iniciar a viagem sabíamos que não poderíamos modificar a situação das pessoas, mas que podíamos ajudar alguma coisa. Fomos para dar “alguma coisa” e eles deram-nos muito mais. Aprendemos aquilo que nem os livros, nem os professores ensinam.
Durante todo o tempo, pedi a S. Josemaria que esses dias deixassem um rasto perene, como ele sugeria: Um homem ou uma sociedade que não reaja perante as tribulações e as injustiças, e que não se esforce por aliviá-las, não são um homem ou uma sociedade à medida do amor do Coração de Cristo.
Estocolmo, Agosto de 2009